Entramos na era dos alimentos funcionais e, o que antes era um tímido movimento de algumas categorias, agora, acelerado pela pandemia, participa de todas as gôndolas dos supermercados. Mas, afinal: o que são alimentos funcionais?
A regra aqui ainda não é clara e, por esse motivo, a definição fica ao gosto do freguês. Alguns classificam como alimentos que tiveram algum ingrediente adicionado que traga benefícios à saúde, como os fortificados. Outros, definem como alimentos densos em nutrientes, como por exemplo, os superfoods. De maneira geral, podemos dizer que alimentos funcionais são aqueles que trazem algum tipo de benefício à saúde.
Sistema imunológico
Do leque de funcionalidades a escolher, por motivos óbvios, a imunidade ganhou um espaço diferenciado, sendo considerada até mesmo a palavra de ouro. Apesar da ANVISA ser rigorosa quanto ao uso da alegação de imunidade na categoria dos alimentos, surgem diversos produtos no mercado prometendo o que todos queremos: a tão sonhada imunidade. Mas por que será que ainda não temos um remédio ou produto que entregue essa proteção ao corpo?
O sistema imunológico é extremamente complexo e, honestamente, sabemos muito pouco sobre ele. Porém, é possível afirmar que o mesmo entra em ação toda vez que encontramos um corpo estranho que pode nos causar algum mal. Ou seja, temos um exército interno responsável por proteger nosso organismo diariamente. Ele é extremamente eficaz e pode ser dividido em dois momentos:
I. Imunidade inata: nosso primeiro pelotão de defesa logo que entramos em contato com um corpo estranho. Tem características pró-inflamatórias, ou seja, gera respostas inflamatórias no corpo.
II. Imunidade adquirida: trata-se da nossa tropa de elite estratégica que planeja o ataque ao antígeno: aprende, se adapta e ainda memoriza a estratégia campeã. Tem características anti inflamatórias, ou seja, diminui os sintomas da inflamação.
Diferentes células fazem parte desse exército diverso e potente e, a comunicação e estratégia de guerra muitas vezes são sentidos por nós, através da febre, dor e cansaço. É tudo parte do plano. Ainda desconhecemos a vasta estratégia de ação e mecanismos de comunicação desse importante exército, por isso, não temos um remédio na farmácia que seja capaz de combater infecções. Ainda, dependemos de vacinas para ensinar de maneira controlada uma resposta imune e de remédios para amenizar sintomas.
Ingredientes que aumentam a imunidade
Entendemos que alguns compostos são capazes de fortalecer o sistema imunológico, mas sabemos que além da dieta, o stress, sono e outras alterações no corpo, também têm papel importante no bom funcionamento desse exército.
Também sabemos que alguns ingredientes utilizados em estudos clínicos foram capazes de implementar uma melhora no sistema imunológico, mesmo que ainda não saibamos exatamente quais são estes mecanismos. Das patentes geradas nos últimos 10 anos, 40% são relacionadas ao uso de botânicos para melhora do sistema imunológico, 35% em probióticos, 8% sobre fermentados, 6% em algas/fungos e outros 6% em prebióticos, 3% em produtos de origem animal e apenas 2% em vitaminas e minerais (Mintel, 2020).
Botânicos
Os botânicos podem auxiliar o nosso exército através de diferentes mecanismos e moléculas. Temos as quase famosas antocianinas que bombaram nos produtos nos EUA e Europa através da elderberry, mas aqui perderam espaço para o brasileiríssimo açaí. Ainda pelas diferenças culturais, na Ásia, o escolhido foi o arroz preto.
Outros queridinhos dos botânicos lá de fora foram a echinacea, florzinha que chega de maneira ainda discreta no Brasil e melhora a mobilidade de alguns soldados do nosso exército; e o manuka honey, um mel especial da Nova Zelândia que tem grande atividade antibiótica. Aqui no Brasil, a paixão ficou por conta da cúrcuma, que contém um poderoso anti inflamatório e antioxidante, que previne danos até mesmo ao material genético.
Ainda no assunto dos antioxidantes, temos a Glutationa, molécula produzida pelo nosso corpo que é tida como a mais poderosa molécula antioxidante do organismo. Diversas marcas lançaram produtos contendo todos os tijolos que nosso corpo precisa para fabricar esta poderosa molécula.
De olho no futuro, vemos produtos bebendo da fonte de sabedorias tradicionais, como por exemplo, a medicina chinesa e a ayurveda, trazendo produtos até então desconhecidos no mercado ocidental, como a raiz astragalus e o cogumelo Reishi.
Intestino e imunidade
Recentemente, descobrimos o link entre o intestino e a imunidade e, que ter uma microbiota saudável, estava relacionado à força e potência do nosso exército. Dessa forma, probióticos surgem então em cápsulas, shots e iogurtes. E os prebióticos, que são fibras para “comida” das bactérias, surgem em ondas de consumo. Primeiro a inulina, ou fibra da chicória, depois as fibras da família do brócolis, agora o boom das beta-glucanas de aveia ou levedura e, no futuro, quem sabe a Arabinogalactana, fibra de um pinheiro.
Outros compostos
Sabemos que o leite materno também fortalece a imunidade do filhote, então em geral, os produtos com a base de leite, como o whey protein, trazem essa característica. Alguns produtos também trazem o colostro bovino, leite secretado logo após parto, rico em nutrientes e proteínas, como a lactoferrina.
Finalmente, sabemos que algumas vitaminas e minerais têm um importante papel no bom funcionamento do nosso exército e estão presentes nas formulações dos produtos com apelo imune. Temos um abecedário de vitaminas A, B, C, D e E e cada uma com seu papel a desempenhar no suporte aos nossos soldados. Temos também os minerais Zinco, Selênio, Cobre e Ferro, que integram enzimas e comunicam sintomas.
Como pode-se perceber, o sistema imunológico é extremamente complexo e inteligente, e nos salva diariamente de ameaças externas. Devemos entendê-lo de maneira holística, controlando nossa dieta e suplementação, noites de sono, stress e exercício físico, para assim dar todas as condições necessárias para esse nosso exército continuar vencendo a guerra.
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